domingo, 21 de dezembro de 2008

A "Tomada de Papanduva"

                          A Tomada de Papanduva



     Na herança cultural de cidadãos do Contestado, consta uma das mais marcantes páginas já vivenciadas pela população papanduvense.
Trata-se do episódio chamado “Tomada de Papanduva” acontecido em 1914.
   Não vamos comentar aqui quais as causas ou os fatores religiosos, sociais, econômicos, antropológicos ou políticos que propiciaram o surgimento de conflitos na região contestada entre Paraná e Santa Catarina.
  Pretendemos somente recordar nefastos acontecimentos oportunizando estudo e reflexões acerca de fatos históricos na construção da sociedade regional.
Em 26 de agosto de 1914 a vila de Papanduva foi completamente sitiada.
   Elementos revoltosos, comumente chamados de fanáticos depuseram as autoridades locais, assaltaram casas de comércio, mataram civis e tomaram conta do lugarejo pondo em polvorosa toda a população.
     Muitas famílias tiveram que se refugiar em localidades vizinhas, por meses, perdendo quase tudo. O bando que tomou Papanduva era chefiado por Aleixo Gonçalves, que a seguir enveredou para Itaiópolis. Outro chefe jagunço, Henrique Wolland, “o alemãozinho”, era o chefe do piquete que por aqui se instalou.
     Segundo o 1º Livro do Tombo da Paróquia de São Sebastião, “entrincheiravam-se na Praça de Papanduva”, no centro da Vila. Aqui permaneceram fazendo terrorismo por três meses. Somente as mulheres podiam sair às ruas.
   A área conflagrada vivia sob a ameaça dos fanáticos. A população se recolhia apavorada ou punha-se em fuga.
     Em 6 de setembro de 1914, sob as ordens do major Benjamim Augusto Lage, as forças paranaenses, instaladas em Papanduva para combater os fanáticos, montaram acampamento, atrás da capela de São Sebastião, onde é hoje o salão paroquial. O local foi escolhido porque oferecia uma boa visão das redondezas. Chegaram a cavar valas fundas no chão para dali montar guarda e usar suas winchesters.
     Os rebelados, em torno de 300, instalaram-se em barracas, no local onde hoje é o ginásio de esportes do Colégio Alinor Vieira Corte.
      Enquanto isto, a nossa vila continuava sob o jugo dos sertanejos revoltosos, com as autoridades depostas e com a população vivendo três meses de terror, subjugada pelo medo.
     Era muito visada a vila de Papanduva, “por estar interposta entre os alojamentos de Aleixo e Tavares” e localizada às margens da Estrada da Mata.
     Em 9 de novembro de 1914, o Presidente do Estado do Paraná autorizou que o Batalhão de Infantaria fosse organizado como “Batalhão Tático” para assim se tentar manter a ordem com mais eficiência.
    Foi preciosa a presença heróica dos milicianos paranaenses, nesta campanha que jamais será apagada das páginas de nossa história.
    Quem tinha condições, saía do lugar para só retornar muito tempo depois para contar os prejuízos e outros foram embora para outras plagas.
    As casas de comércio eram saqueadas, sendo tudo levado ou destruído. Geralmente os fanáticos levavam víveres, animais para abate e montaria, bem como armas e munições.

Casa de morada de Francisco Martins Haas 1914.Invadida por jagunços.

                   A Luta pela Retomada da Vila de Papanduva
     O Batalhão tático recebeu a incumbência de retomar Papanduva, das mãos dos jagunços, cujo objetivo já havia sido traçado.
  Papanduva passou a ser, com mais insistência atacada per sertanejos dos bandos de Aleixo, Tavares, Alemãozinho e outros. “Assim fizeram os sertanejos nos dias 18, 19, 20 e 21 de novembro de 1914. Os militares, que conseguiam abrir claros nos grupos adversos, chegaram a ficar quase sem munição de guerra, tendo que repelir o inimigo a arma branca”. (General Setembrino de Carvalho, apud Alves da Rosa).
     São passados muitos, mas a memória popular ainda se mantém viva e guarda resquícios dos horrores e dos prejuízos da época do fanatismo.
     Ainda em novembro de 1914, a força do Major Lage sediada em Papanduva foi remuniciada e devidamente reforçada. O comboio de munição veio escoltado por uma guarnição de infantaria, com 200 homens do Exército, que chegou a tempo de auxiliar no desbaratamento do inimigo na sua última investida a sede da vila de Papanduva.
    Por aqui permaneceram as forças militares do Paraná guardando a vila até o início de 1915. Dramático foi o episódio ocorrido na localidade de Queimados quando a 28 de novembro de 1914, vaqueanos, civis e militares em combate de fogo cerrado, desalojaram e botaram em fuga o último grupo de jagunços, deixando no campo de luta 30 fanáticos mortos, mais de 60 feridos, além de 150 animais, arreamentos, cangalhas, munições e armas.
     Anos depois se achou neste local uma pistola enferrujada e o lugar passou a chamar-se Pistola, nome que perdura até hoje.
  Heróis papanduvenses lutaram contra grupos de fanáticos. Relatos destes embates se acham na obra Resgate de Memórias – Papanduva em Histórias.
   O conflito do Contestado teve grande significado no contexto regional do Planalto Catarinense, concorrendo para o empobrecimento da região e contribuindo com o processo de litoralização do Estado de Santa Catarina.


Sinira Damaso Ribas 2004



Papanduva nos Primórdios


Papanduva nos Primórdios

Partes da obra Resgate de Memórias: Papanduva em Histórias. Famílias. Sinira Damaso Ribas - 2004

Papanduva nasceu à beira de um caminho.
Sua origem se confunde com a história da estrada usada pelos tropeiros para conduzir o gado de Viamão- RS a Sorocaba- SP.
Condutores de tropas do Rio Grande do Sul para São Paulo fizeram deste lugar, um ponto de pousadas, a partir de 1730. Para se chegar ao destino, a melhor via de ligação era o “Caminho das Tropas”, um traçado precário que cortava regiões de campos, serras, clareiras, charcos e mata fechada.
Os comerciantes viajores com suas tropas faziam paragens nesta região por encontrar o papuã, excelente pasto para os animais. O capim papuã da espécie Brachiaria plantaginea é uma gramínea com bom teor de proteína e alta digestibilidade, na época se prestando para o pastejo e engorda do gado que se destinava aos abatedouros paulistas. Nossos pastos serviam também de invernadas para os muares procedentes do sul. Por este motivo, em Papanduva, as caravanas faziam paradas de vários dias, para recuperação, antes de prosseguir viagens.
Papanduva é um nome indígena, derivado do nome do capim papuã.
Se, pela abundância e qualidade das pastagens o lugar era ideal para as tropas, era melhor ainda para o repouso e segurança dos tropeiros. Desde aqueles tempos, Papanduva é o paraíso da hospitalidade.
Papanduva reconhece que o tropeiro é o embrião de sua história. O tropeirismo foi a atividade que propiciou a formação de povoados e seu posterior desenvolvimento. As primitivas pousadas e choupanas davam origem a alojamentos mais organizados, onde famílias se estabeleciam para servir os viajantes e seus animais. Junto destes alojamentos eram feitos currais para abrigar os cavalos e as mulas durante a noite. Galpões eram construídos. Eram as conhecidas pousadas, que com o tempo se transformavam em pequenos centros de comércio. Assim nasceu um singelo povoado, hoje a acolhedora cidade de Papanduva.
Nas invernadas, durante o repouso, nossa hospitalidade reteve muitos tropeiros paulistas e paranaenses que demandavam a Estrada da Mata, cortando caminhos e por aqui se instalaram.
A “Picada dos Tropeiros” chegava a Papanduva, no sentido sul/norte, através do Rodeio Grande, passava no Rio da Prata, Lagoa Seca, transpondo o povoado e o rio Papanduva até chegar ao Passo da Cruz, atingindo o Passo Ruim e assim prosseguindo adiante. Esse local, mal drenado, era de difícil travessia, com terreno encharcado próximo ao Rio São João e um afluente que freqüentemente transbordava.
Ao longo da sinuosa via que cortava este sertão, foram se instalando pousos e invernadas, fixando moradores. Dois destes pousos têm para nós significativa importância. O primeiro, numa clareira, com uma planície que pela excelência do lugar era chamada “A Desejada” e posteriormente com o nome de Papanduva ou as “Cocheiras do Papanduva” e o segundo, bem próximo, ao pé de uma serrinha, denominado “São Tomaz de Papanduva”, em 1877 pelo sertanista Joaquim Francisco Lopes de Oliveira.
Papanduva era ponto de paragem, na ida e na volta das épicas viagens dos bravos tropeiros que transitavam pelo tortuoso Caminho das Tropas.
Distante de outras paragens, Papanduva era local de chegada obrigatória no trecho entre Rio Negro e Lages, através da Estrada da Mata. Este lugarejo formou-se com alojamentos de tropeiros e foi alavancado por acampamentos de “arigós”, para a construção da referida estrada. Os elementos que recebiam este nome eram trabalhadores volantes que se instalavam em barracas ou tendas nas frentes de trabalho. Estes eram operários recrutados de diversos pontos do país e depois de certo tempo, substituídos por outros. Alguns, porém, constituíam famílias e acabavam se fixando no local, incrementando os povoados.
Criadores e lavradores luso-brasileiros provindos do Paraná e São Paulo, através da Estrada da Mata, com suas mudanças transportadas em dorso de muares, chegavam até nossas paragens trazendo na algibeira os documentos de doação de sesmarias e se instalavam em áreas do planalto. Pela extensão destas terras era difícil mantê-las, pela falta de mão de obra, fator que fez com aos poucos elas fossem sendo invadidas por posseiros e mais tarde compradas por colonos imigrantes.
Em 1818 o povoado de Papanduva, recebeu um pequeno incremento com a vinda de algumas famílias procedentes de Campo do Tenente PR, que aqui se dedicaram à criação de gado bovino e extração de erva-mate.
As tropas, as bandeiras, as mudanças de paulistas, os carroções de mercadorias e outras expedições, continuaram transitando por nossos precários caminhos, percorrendo a Estrada da Mata, sempre por viajores reunidos por bom número e bem armados para poderem se defender de prováveis ataques de feras ou de indígenas.
O lugarejo, com muitas limitações foi lentamente crescendo. Em 1829, o Padre Marcelino José dos Santos rezou missa em Papanduva1, por ordem da Cúria de Rio Negro. Esta é uma data longínqua que prova a existência do povoado.
Os ranchos e as casas, desde os primórdios, eram de madeira “falquejada”, janelas de pau, portas fechadas com tramela e cobertas de tabuinhas. Nas proximidades não faltava um carijo para o preparo da erva-mate - (Ilex paraguariensis). Eram extensos os lageanais.
Nos primórdios papanduvenses, as principais atividades econômicas resumiam-se em extração de erva-mate, lavouras de subsistência, tropeirismo, criação de gado bovino e suíno. Num passado um pouco mais recente a extração madeireira fez parte consistente de nossa economia.
Há mais de um século, o lugarejo era dividido em Quarteirões. A sede propriamente dita constava de dois. Um deles, partindo do centro para cima era o Quarteirão da Ronda (depois Rondinha), e outro, para baixo, Quarteirão da Invernada, terras da família Haas. Nos arredores, por exemplo, já havia os quarteirões da Lagoa Seca, Queimados, Guarany e Pinhal. 2
Somada à população cabocla mais antiga do povoado, chegaram a Papanduva imigrantes alemães ainda na primeira metade do Século XIX e poloneses a partir do início do século XX. Já na segunda década, os ucranianos, e mais tarde (depois de 1940), japoneses e descendentes de italianos.
Ao longo de nossa história, a influência externa foi importante na formação da população que hoje somos. Revendo as raízes culturais de Papanduva, reconhecemos que a múltipla formação étnica contribuiu para a consolidação do espírito progressista que caracteriza hoje o município.
Todos, nativos e descendentes de imigrantes, aprendemos com os revezes da vida e nos beneficiamos com as lições extraídas da história, por isso, somos um povo forte, corajoso, produtivo, congregado e solidário.
Papanduva, município planaltino, vive o progresso, graças à qualidade de seu povo, ao seu solo dadivoso e fértil, à multiplicidade de sua etnia, mas continua dependendo também do  empenho de seus governantes.
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1 - Cf. LIVRO DO TOMBO DA PAROQUIA DE RIO NEGRO apud Livro do Tombo nº. 1 da Paróquia de Papanduva. 1950.
2 - Cf. Livros de Assentamentos de Nascimentos do Distrito Judiciário de Papanduva. Acervo do Cartório de Registro Civil.
RIBAS, Sinira Damaso. Resgate de Memórias: Papanduva em Histórias. Famílias. 2004


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