quinta-feira, 1 de abril de 2010

Aldeamento de São Tomaz de Papanduva



Relato publicado em jornal em 1876 sobre um encontro com indígenas do Rio Preto envolvendo o sertanista Joaquim Francisco Lopes, genearca de valiosa família papanduvense.


Jornal Kolonie Zeitung. P 135 de 19/08/1876.


"Bugres - Do Planalto noticiamos o seguinte: Um dia encontrava-se trabalhando na roça, o filho do alemão Clemente Sauer, quando de repente assustou-se ao ouvir um batido repetido três vezes em uma velha árvore. Há poucos metros dele encontravam- se três bugres, que lhe faziam sinais. Ao primeiro susto, Clemente apanhou sua arma, mas como viu que os bugres estavam desarmados, e assim o demonstraram, largou a arma. Então eles se aproximaram e um deles, que se apresentou como "cacique baixo" e falava poucas palavras em Português, disse-lhe que eles vieram a ele para pedir-lhe que ele procurasse o conhecido Lopes, que se acha encarregado pelo governo, de os civilizar para que lhe diga que em cinco dias (os dias foram demonstrados através do movimento dos braços) Lopes os encontrasse em um determinado local na mata, onde eles pretendiam com este conversar. Clemente prometeu levar o recado, e logo após os bugres desapareceram. Sauer foi em direção à casa de Lopes, que morava um pouco afastado. Lopes advertiu que Sauer nem se incomodasse mais com eles, caso contrário poderiam matá-lo.

Após alguns dias, quando Clemente trabalhava em sua roça, apareceram novamente os três bugres. O porta-voz agradeceu-o novamente por ter atendido ao pedido feito, dizendo que o observaram, apesar de ele não os ter visto, até o momento em que chegou a casa de Lopes. Disse que ele (Sauer) e sua família poderiam ficar tranqüilos, pois nunca lhes fariam mal. Por outro lado, disse (o bugre) que havia um conhecido morador do distrito de São Bento, que havia sido por várias vezes encarregado de caçar bugres, e que este sim, deveria tomar cuidado. Ao ouvir o nome do caçador, os bugres cerraram os dentes com ódio. Ao serem questionados do motivo do assalto (ou de intenção?), responderam ser por vingança. Perguntou também quantos eles eram e responderam serem muitos (através de gestos com as mãos), que seu povo vinha de três grupos ou clãs agrupados. Um grupo sob o comando de um cacique baixo, como ele o referiu, que se encontrava no pé da serra, um segundo grupo sob o comando de um cacique baixo no outro lado do Rio Negro e o terceiro grupo sob seu comando, deste lado do Rio Negro. O Capitão grande (Ober cazike) mora no morro Tayo e seria seu pai, e que o mesmo seria um velho homem, que já não poderia mais caminhar e estava fraco. Despediram-se de Clemente deixando diversos pequenos presentes, comentando que voltariam outro dia para uma visita.

Sauer contou o fato ao Sr. W. Engelke, empreiteiro da estrada (Dona Francisca), sendo que este combinou com Sauer de levar alguns presentes, e combinou uma data para encontrá-lo em sua roça para aguardar a visita dos bugres. No entanto, os bugres não apareceram, embora fosse perceptível sua presença na mata. Mesmo quando Sauer afastou-se do local, e Engelke permaneceu sozinho, não apareceu ninguém.

Dr. Engelke retornou e tem esperanças de que através da mediação de Clemente possa ainda ser possível uma reunião com os bugres em Rio Preto. O líder dos três bugres que se encontraram com Clemente tinha cabelo cortado em forma arredondada. Os outros dois tinham cabelo cortado na altura da testa, e todos três usavam o botoque (pedaço de madeira) sob o lábio inferior." (grifos nossos)

Sobre estes aldeamentos, também foram publicadas notas em diversas edições, na região do vale do Itajaí, mas não há mais citação de Lopes, porque este sertanista mudou-se para formar o Aldeamento de São Tomaz de Papanduva. (Sinira. Fórum SC-Gen)

Aldeamento de Papanduva

De acordo com Santos [1], a primeira tentativa de aldeamento para índios Xokleng em Santa Catarina foi promovida em 1877 pelo sertanista paranaense Joaquim Francisco Lopes. A intenção era proteger os colonos da vila de Rio Negro e os tropeiros que demandavam pelo Caminho das Tropas.

A região de Papanduva era território do Paraná. Wachowicz diz que “por duas vezes Lopes tentou a catequese dos Xokleng na região do Contestado, sem qualquer sucesso. Tais incursões começaram em 1868 e em 1877 o governo encarregou-o de fundar um aldeamento a cerca de cinco léguas de Rio Negro, num lugar “ao qual [Lopes] deu o nome de S. Tomás de Papanduva”. Lopes não recebeu as verbas prometidas e de Papanduva foi exercer suas atividades de sertanista ao Norte do Paraná.

Segundo Wachowicz, citado por Fernando Tokarski, Lopes não recebeu do governo as verbas prometidas e esta foi uma das causas da extinção do primeiro aldeamento de Santa Catarina.

                                              * * *
Os jornais antigos, de acordo com a visão daqueles tempos, só reproduziam o lado dos colonizadores e nunca ouviam o lado oposto. Seria a questão de ouvir os dois lados, premissa básica do moderno e sério jornalismo.

E mais, os jornais e os relatos orais só falavam das "maldades" dos povos primitivos, os Xokleng. Sempre omitiram as "barbáries" e o genocídio impetrados contra os verdadeiros donos da terra. Mas, a verdade dos vencedores fala mais alto...

"O sertanista Joaquim Francisco Lopes de Oliveira era pai de Dulcíndio Joaquim Lopes de Oliveira (Dúrcio), que foi morto na noite de 25 de dezembro de 1911 junto com seu filho Luiz Lopes de Oliveira. Sem chances nenhuma foram fuzilados por 72 jagunços por causa do estoque de mantimento e sal que tinham em sua casa.
Deixou os seguintes filhos: Alfredo Lopes de Oliveira[2], José, Antoninho, Deolindo, Geraldina , Maria da Conceição e Francisca".

A história de Lopes é realíssima, tanto é que os seus descendentes ainda vivem em Papanduva e por extensão em todo o Planalto Norte de SC.
http://sinira10@blogspot.com

1 SANTOS, Sílvio Coelho dos. Índios e brancos no sul do Brasil: a dramática experiência dos Xokleng. Florianópolis: Edeme, 1973. p. 76-77.
2 Alfredo Lopes de Oliveira é um vulto cívico papanduvense.
                                                             * * *

CONSTELAÇÃO FAMILIAR SISTÊMICA E XAMÂNICA

Conhece a constelação xamânica? Dinâmica que muito tem ajudado pessoas a ver situações que se tornam problemas em suas vidas e mostra as sol...